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Resenha: Esú - Baco Exu do Blues



O Rap é um estilo musical onde se combina poesias,rimas e métricas em frases rápidas e com efeito, acompanhadas de batidas e algumas vezes samplers de outras canções. Surgiu no fim do século XX entre comunidades negras dos Estados Unidos e foi se popularizando ao redor do mundo. O Rap se populariza no Brasil por volta de década de 80, embora ainda hoje o cenário musical do Rap brasileiro não tenha atingido seu auge como o Pop ou Funk. O estilo mantém um nível de criticas a sociedade, libertação e falas do cotidiano.

 Baco Exu do Blues surgiu na cena com a música "Te Amo Disgraça", que alcançou popularidade na internet; e agora lança seu interessante álbum de estreia. Esú, é poético, metafórico, profano, artistico e sobretudo, uma luta pelos direitos dos negros.

"Intro( feat KL Jay)" começa com um monologo poético falando sobre origens africanas e sobre o homem negro, em seguida temos versos fervorosos de Baco e KL Jay, (Racionais Mc's) onde ele fala sobre empoderamento do negro, sobre sofrimento e ainda citações sobre Salvador,Bahia, Jorge Amado, Candomblé, dentre outras. Uma faixa perfeita para uma introdução.

Nos EUA temos como o maior representante atual de Rap Kendrick Lammar, que ganhou notabilidade a falar de direitos dos negros e sobre intolerância enquanto traz em seu arranjos elementos de músicas africanas. Em "Abre Caminho" temos exatamente isso, criticas ao racismo, à intolerância religiosa e um beat que te mantem preso a canção. Em "Oração a Vitória" seguimos o mesmo padrão, mas com originalidade única, temos várias citações e referências: Caetano Veloso; Gilberto Gil; Nação Zumbi; Literatura;Política; enquanto temos frases explicitas e gráficas.

"Esú" quarta faixa do álbum é um banho de referências, chega até ser ofensivo resumi-las, mas se fosse citar cada uma, seria necessário colocar a letra inteira aqui. Temos aqui literatura, mitologia,religião; temos uma música paradoxal e um sample excelente dos "Novos Baianos". Se fosse para escolher uma faixa que representaria tudo de melhor nesse álbum, essa faixa com certeza seria "Esú".

"En Tu Mira" quinta faixa foi classificada como um interlúdio do álbum, e essa faixa é "um tiro",literalmente. Baco fala sobre as cobranças que vem recebido como artista, e como isso é degradante, "En tu Mira" é um poema, é arte; e Baco nos entrega uma interpretação regada por sofrimento e verdade.

"Capitães de Areia" é sinistra mermão! Não preciso mencionar que Capitães de Areia é o grande clássico literário escrito por Jorge Amado, mais desnecessário ainda falar que ele serve de referência à canção. Mas adianto algumas informações: Capitães de Areia foi escrito quando o Brasil se encontrava em um cenário permeado pela luta de classes, a obra foi considerada "social e proletária", e com o teor critico que o livro apresentava foi proibido pelo governo da época, sendo até queimado em fogueiras. Na faixa de Baco ele usa o mesmo teor critico da obra, e se compara com Pedro Bala (personagem líder do grupo apresentado no livro), mas aqui além de citar a obra e seus conflitos, Baco atualiza com novos problemas sociais, adicionando aqui: homofobia, xenofobia, machismo e reforça a violência entre classes. "Capitães de Areia" é uma faixa que deve ser sentida, vivenciada e usada como forma de combate a qualquer absurdo que protagoniza nosso cenário nacional, pois como afirma Baco: Somos homens e mulheres livres.

"Senhor do Bonfim" e "A Pele que Habito" (essa última faixa acompanhado pelo sample da faixa "Dedicado a Ela" de Arthur Verocai) sétima e oitava faixas respectivamente são excelentes. Ambas falam muito, em especial sobre doenças, condições de vida precária, hipocrisia, empoderamento e liberdade. Cada qual com sua maneira e essência compõe um dos pontos altos do disco. São faixas para serem apreciadas.

"Te Amo Disgraça" penúltima faixa e o grande sucesso do álbum. A faixa quebra o conceito que o trabalho seguia, mesmo assim não podemos deixar de lado o arranjo da música e sua estética. A letra é bastante explícita, e esse é o ponto alto da música, VERDADE. Baco não cai no romantismo ou idealizações, ele canta o sexo e canta-o como é: Obsceno, forte e real. Uma faixa boa, mas fora do padrão do álbum.

"Imortais e Fatais" última faixa do álbum encerra-o com maestria e perfeição. Baco volta a seu lirismo, referências, lutas e toda sua realidade. Além de trazer questionamentos tão presentes no dia a dia e pensamento de grande parte da população.

Em seu trabalho de estreia, Baco nos trás um banho de referências e traz voz a comunidade negra, apresenta traços de seu candomblé e ostenta sua cidade Salvador. Mesmo recente "Esú" é um álbum para ser marcado como marco do rap nacional, além de já ser um dos melhores álbuns do ano.

Nota-9.5/10 




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